Entenda as diferenças entre o aprendizado online e o ensino remoto de emergência
Uma experiência de aprendizado online bem planejada é muito diferente dos cursos oferecidos online em momentos de crises ou de desastres. Escolas e universidades que trabalham para manter o ensino durante a pandemia do COVID-19 devem entender essas diferenças ao avaliar esse ensino remoto de emergência
Devido à ameaça do COVID-19, escolas e universidades enfrentam o desafio de seguir promovendo o ensino e a aprendizagem enquanto mantém professores(as), funcionários(as) e estudantes a salvo de uma emergência de saúde pública que cresce rapidamente e ainda é pouco conhecida. Muitas instituições decidiram suspender todas as aulas presenciais, incluindo aulas práticas em laboratórios e outras experiências de aprendizagem, e investir na educação e no aprendizado online para ajudar a impedir a propagação do vírus que causa a COVID-19.
A lista de instituições de ensino superior que tomam essa decisão vem crescendo a cada dia. Instituições de todos os tamanhos e tipos – Ivy League, escolas e universidades estaduais, escolas comunitárias e outras – estão dando aulas online [1]. O futurista e educador Bryan Alexander organizou o ensino online de centenas de instituições [2].
A educação online pode flexibilizar o ensino e aprendizado, que pode ocorrer a qualquer hora e em qualquer lugar, mas a rapidez com que se espera que ocorra essa mudança do offline para o online é impressionante. Embora as equipes de apoio administrativo do campus geralmente estejam disponíveis para ajudar os professores a aprender e implementar o aprendizado online, costumam ser pequenos os grupos de professores interessados em ensinar online. No momento atual, esses indivíduos e equipes não têm como oferecer um amplo auxílio a todos(as) os(as) professores(as) tendo pouca formação e conhecimento prático. Os professores até podem ser “gênios da educação”, às vezes, por improvisarem soluções rápidas para lidar com circunstâncias difíceis. Não importa quão inteligente seja uma solução, mesmo com algumas soluções muito inteligentes surgindo, muitos(as) professores(as) vão achar esse processo todo muito estressante. É compreensível.
A tentação de comparar o aprendizado online com o presencial nessas circunstâncias será grande. Um artigo recente, inclusive, já sugeriu que façamos um “grande experimento”, caindo nessa mesma comparação [3]. Entretanto, essa sugestão é bastante problemática. Em primeiro lugar, é preciso reconhecer a questão política que envolve qualquer debate desse tipo. “Aprendizado online” se tornará um termo politizado que pode assumir vários significados, dependendo do argumento que as pessoas utilizem. Ao falar sobre as lições aprendidas quando a África do Sul entrou em quarentena, a pesquisadora Laura Czerniewicz relata aquele momento em torno do conceito de “aprendizado híbrido” [4].
O aprendizado híbrido atraiu agendas políticas sem que prestassem atenção ao fato de que as instituições vão tomar decisões e fazer investimento de maneiras diferentes, resultando em soluções muito diferentes de uma instituição para outra. Vamos distinguir os diferentes conceitos, na esperança de auxiliar as avaliações e reflexões que certamente virão desse movimento em massa das escolas e universidades.
Um estigma do aprendizado online é que o método teria qualidade inferior ao presencial, apesar de pesquisas mostrarem o contrário. Essa mudança súbita de tantas instituições para o online, ao mesmo tempo, pode fazer o aprendizado online parecer uma opção fraca. A verdade é que nenhum(a) profissional que fizer a transição para o ensino online nessas circunstâncias, às pressas, poderá tirar o máximo proveito dos recursos e possibilidades do formato online.
Ao longo dos anos, pesquisadores em tecnologias educacionais tiveram o cuidado de definir termos para distinguir entre as soluções desenvolvidas: ensino a distância, aprendizado distribuído, aprendizado híbrido, aprendizado online, aprendizado mobile e outros. No entanto, o entendimento das diferenças não se difundiu para além do mundo da tecnologia educacional e dos pesquisadores e profissionais de design educacional. Aqui, queremos oferecer uma discussão importante sobre a terminologia e propor formalmente um termo específico para o tipo de educação que é entregue nas circunstâncias descritas anteriormente: ensino remoto de emergência.
Muitos membros ativos da comunidade acadêmica, incluindo alguns de nós, têm debatido calorosamente a terminologia nas mídias sociais. “Ensino remoto de emergência” surgiu como um termo alternativo comum usado por pesquisadores da educação online e profissionais para estabelecer um claro contraste em relação ao que muitos de nós conhecemos como educação online de alta qualidade. Alguns leitores podem discordar do uso do termo “ensino” em detrimento de escolhas como “aprendizado” ou “educação”. Em vez de debater todos os detalhes desses conceitos, selecionamos “ensino” por causa de suas definições simples – “ato, prática ou profissão de um professor” [5] e “compartilhamento de conhecimentos e experiências” [6] – juntamente com o fato de que as primeiras tarefas realizadas durante as mudanças de emergência são as de um professor.
Educação online eficaz
A educação online, incluindo ensino e aprendizagem online, é estudada há décadas. Diversos estudos, pesquisas, teorias, modelos, padrões e critérios de avaliação se concentram na aprendizagem online de qualidade, no ensino online e no design do curso online. O que sabemos é que o aprendizado online eficaz resulta de um planejamento e design cuidadosos, usando um modelo sistemático de design e desenvolvimento [7]. O processo de design e a consideração criteriosa de diferentes decisões de design têm impacto na qualidade do ensino. E é esse cuidado no design que estará ausente na maioria dos casos nessas mudanças de emergência.
Um dos resumos mais abrangentes de pesquisas sobre aprendizagem online vem do livro Learning Online: What Research Tells Us about Whether, When and How (“Aprendizado Online: o que as pesquisas nos dizem sobre o ‘se’, ‘quando’ e ‘como’”, em inglês) [8]. Os autores identificam nove tópicos que precisam de atenção, cada um dos quais com inúmeras opções, destacando a complexidade do design e processo de tomada de decisão. As nove dimensões são modalidade, ritmo, proporção aluno-professor, pedagogia, papel do professor online, papel do aluno online, sincronia da comunicação online, papel das avaliações online e fonte de feedback.
Opções de design de aprendizado online (variáveis moderadas)